segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dia 03/01/2011 - Quase morremos, mas foi de frio (La Carretera de La Muerte).

Uma noite bem dormida, em uma cama limpinha e confortável, me fez voltar à vida, o André concordou, pois sentia o mesmo. Descemos para o café, que pela primeira vez desde o Sonesta Del Inca, era self-service, tinha de tudo, frutas tropicais, sucos, pães, queijos, etc, etc.  Tudo à vontade!  Eles chamam isto de café americano, nós chamamos de café mesmo, e sempre esperamos por isto em qualquer lugar do Brasil, nestas bandas só em um 4 ou 5 estrelas.
Já descemos com o spray de lubrificar correntes na mão, assim terminamos o café e fomos lubrificar as motos, muito melhor do que fazer já com a roupa impermeável, que dificulta os movimentos.
Subimos, nos trocamos e sem bagagem saímos para a aventura do dia, na noite anterior eu tinha pesquisado na internet o melhor caminho, uma vez que os nossos GPS estavam com mapas da Bolívia, mas estes eram imprecisos. Saímos na avenida 16 de Julio e o trânsito estava caótico, a quantidade de vans era enorme, elas formam a base do transporte público, ou melhor, elas são o transporte público...   Mesmo de moto, estava difícil passar, pois é carro pra todo lado trocando de pista de forma desordenada.  Nós já tínhamos visto no dia anterior, que a policia daqui usa Kawasaki KLX-650, são belas motos, porém hoje entendemos que é o exército que usa. De repente fomos cercados por umas cinco, todas com dois soldados,de farda verde, mas sem capacete, e o garupa carregando um fuzil.  Andamos um pouco no meio deles, depois eles viraram à direitana Av. Yanacocha, e nós fomos em frente para um posto de gasolina.

Foi aí que erramos, pois à direita era o caminho para a Ruta 3, achamos que depois do posto era só virar à direita.  Só que com a bagunça erramos a entrada do posto também e depois não havia mais saída à direita.  Bem, fomos conseguir sair muito lá na frente, aí começamos a perguntar, e fomos voltando, até que um taxista nos indicou o rumo, só que mais uma vez erramos. Contudo saímos em um bairro que é um morro, cheio daquelas ruas pequenas em curvas, seguimos os instintos e fomos subindo, a rodovia tinha que passar lá para cima. Finalmente saímos em uma avenida, aí eu perguntei para uma senhora onde ficava a Av. Gen. Juan José Torrez, que nas minhas pesquisas virava depois a rodovia, ela me disse: é esta aqui!
Ótimo, era só seguir à direita.

O dia estava nublado, paramos para comprar água em uma vendinha e logo depois, já no início da estrada, paramos em um posto.  Tínhamos acabado de abastecer quando vimos uma van com um monte de bicicletas em cima. Ôpa, era disto que precisávamos, saímos seguindo a mesma.
Nosso problema, era que a ruta 3 é a estrada nova que vai para Coroíco, a estrada antiga que é a famosa estrada da morte, sai de ruta 3 em algum ponto.  Pelos dados que tínhamos, não havia uma placa sequer indicando a saída, porém como os australianos tinham me contado no taxi lá em Cuzco, era melhor seguir as vans que levam o pessoal para o "downhill" radical de bike.
Ok, lá vai ela, e nós vamos atrás,!  Logo eles perceberam que estávamos seguindo-os, porém mais vans apareceram, continuamos no encalço delas. Neste trecho a ruta 3 é toda uma subida de serra, ou seja se estávamos a 3800 m em La Paz, até que altitude vamos?

Logo adiante havia um pedágio, como sempre paramos e perguntamos se podemos passar, mesmo sabendo que motos não pagam, só que estranhamente neste pedágio pagamos, 12 bolivianos os dois, eu desconfiado pedi para o André pegar o recibo, fomos ver muito tempo depois que fomos enrolados, os recibos não eram de pedágio e não tinham nada a ver.

Quando passamos pela represa de Incachaca, estávamos já a 4300 m de altitude, e subindo.
Chegamos a 4630 m de altitude!   Ali as Vans saíram da estrada e pararam em um descampado à esquerda da estrada que margeia a Laguna de Zongo (La Cumbre).  Esperamos eles descerem da Van, mas então encostou uma outra ao nosso lado e nós já falamos com o motorista.
Ele nos disse que a entrada da estrada velha ficava 20 km adiante e era só nos o seguirmos.
Outras vans foram chegando e o pessoal foi baixando as bikes, dentro de pouco tempo havia umas 30 bicicletas ou mais. O pessoal que ia em cada van, usava um jaleco de cor diferente e formaram grupos.
Naquele ponto havia uma neblina grossa e que molhava.


Downhill, descendo de 4600 m de altitude na estrada nova
Começou o downhill no asfalto, estávamos no ponto mais alto da estrada, e as bikes começaram a "voar" estrada abaixo no sentido de Coroico. Cada grupo era acompanhado pela respectiva van, e pelo que vimos pelo menos um dos bikers em cada grupo era um funcionário das empresas que promovem o "passeio".
Nós fomos acompanhando com as nossas bikes motorizadas, em alguns trechos eles nos passavam, em outros nós ultrapassávamos eles. O tempo foi piorando e, uma fina chuva junto com uma forte neblina começou a tornar a brincadeira meio perigosa.  Acredito que por isto que, depois de uns 10 km, as vans pararam no acostamento e começaram a recolher os ciclistas de volta.

Nós ficamos parados esperando, até que decidimos ir na frente um pouco, paramos em um lugar com um comércio de beira de estrada. O tempo já estava um pouco melhor, só que ninguém sabia informar sobre a estrada velha, na realidade só havia uma menina, que me deu uma indicação esdruxula.

Ficamos esperando as vans passarem, e logo começaram a chegar, novamente fomos atrás.
Rodamos uns poucos quilômetros mais e elas saíram do asfalto à direita.  Era uma estrada de terra bem larga e, outra vez as vans pararam e começaram a descer as bikes.  Agora sim, estamos no lugar, só que dali ainda não dava para ver nada de "anormal".

Depois de uns 10 minutos, fomos em frente bem devagar, uns 500 m adiante após uma curva, descortinou-se na nossa frente o que procurávamos, agora sim podíamos ver La Carretera de la Muerte!


Aí está, afinal ela, La Carretera de La Muerte!


No ponto onde estávamos, eram 3300 m de altitude, a estrada velha vai cortando a lateral das montanhas onde lá em baixo à aproximadamente 1000 m de altitude passa um rio. Daí que os precipícios no início do trecho chegam a ter 2000 m de profundidade!
O percurso desta descida é de 60 km, e termina aos pés do morro onde está a cidade de Coroico. Lá em baixo a altitude do lugar é de 1000 m, quase o equivalente a cidade de São Paulo, que fica a 800 m acima do nível do mar. Por isto nestes 80 km, contando desde La cumbre (4630 m) até lá em baixo a paisagem muda radicalmente.  Saímos das gélidas paisagens semi-áridas das altitudes e vamos para as quentes florestas tropicais, neste curto percurso!


As bikes a pedal e as bikes a motorzão!

Puxando no zoom da câmera

O trecho que já ficou para trás
A estrada antiga foi construída em 1942,  foi por muitos anos a única ligação entre La Paz e o lado amazônico dos Andes bolivianos. Esta estrada ganhou o nada invejável título de estrada da morte, porque comportava o trânsito de caminhões e ônibus em uma pista simples de barro, onde em muitos trechos mal cabe um único veículo. Isto tudo beirando os incríveis precipícios.  Resultado, média de 300 pessoas mortas por ano no auge da sua utilização!

Hoje existe a estrada nova, asfaltada, que lembra a Anchieta em SP, cortando as montanhas por túneis e extensas pontes, mas ainda assim, possui trechos com muitas curvas.
Desta forma, o trecho velho virou atração turística, que é explorada principalmente pelas empresas de aventura que vendem a "descida radical de bicicleta" e também, por alguns motociclistas, claro.

Ficamos parados antes da primeira curva, vendo as bicicletas passarem em grupos, seguidas de perto pelas vans, eles sumiam em uma curva indo reaparecer muito longe lá na estrada, quase não conseguíamos vê-los.
Puxando no zoom da máquina fotográfica, aí sim, pudemos identifica-los.
Somente estando lá dá para entender as distâncias e as dimensões.
Começamos a descer bem devagar, em alguns trechos a estrada é larga, em outros, justamente onde há precipícios, fica estreita, resultado dos desmoronamentos que não podem ser consertados.
Para as bicicletas e as motos, em baixa velocidade, a estrada em si não representa um perigo real.
Claro que se você resolver acelerar, vai colocar a vida em risco, um erro, e será o último.


Eu não entendia o porque desta estrada ser "mão inglesa", quem sobe fica à direita e quem desce à esquerda.
Naturalmente quando algum veículo sobe, passamos por uns três veículos que subiam, a nossa tendência é ir para dentro da estrada, procurando encostar no barranco, o que é errado.  Foi em um destes cruzamentos com outros veículos que entendi a lógica.  Eu fiquei à esquerda (como manda a regra), do lado do precipício, parado esperando um carro que subia passar. Ele com uma marcha reduzida fazia o motor trabalhar muito forte e as rodas em alguns lugares patinavam.

Quem sobe, tem que trabalhar como o motor "cheio" e subir acelerando, é muito mais fácil perder o controle nestas condições, daí que subindo pela direita, se patinar e sair de lado, é mais fácil ir para o barranco.

Quem desce, tem que segurar o veículo, por isto não precisa acelerar, tem que controlar os freios e usar o motor para segurar, tem que ir devagar obrigatoriamente, daí é mais fácil passar pelo lado dos precipícios.
Comentei com o André se ele lembrava como eram deficientes os freios dos caminhões antigos, também não tinham direção hidráulica etc. De fato, passar por esta estrada com um caminhão carregado naqueles tempos, era brincar com a vida. Mesmo hoje, eu não gostaria de ver um caminhão passando por aqui.


André ! não olha não!

Conseguem ver o micro-ônibus ?

Em muitos lugares, as águas que escorrem das pedras, caem em pequenas cachoeiras na estrada, duas delas caem quase do outro lado, passamos por baixo. O visual é lindo, mesmo com o dia nublado, acho que por aqui o sol aparece muito pouco, a umidade no ar é fator predominante.
No caminho, observamos algumas pessoas sentadas à margem da estrada, alguns deles usando macacão amarelo, tive a impressão que eles trabalhavam em algo, não pude identificar o quê, é melhor não tirar o olho da estrada enquanto em movimento.

Aqui dá medo !
Aqui também

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Vai um banhozinho aí?


Olha eu aqui também !
Ei Scooby!  o que é que você está olhando?
Ah !  a estrada nova passando lá no outro lado !
Lá vão as bikes !
Paramos muito, tiramos fotos e filmamos muito também, passávamos pelas bicicletas quando eles paravam, porém em movimento, eram sempre eles que passavam por nós.
Lá em baixo já com a altitude baixa a temperatura subiu, quando praticamente acabou a descida, havia dois bolivianos bem típicos, descendentes indígenas. Eles estavam ao lado de uma corda que fechava a estrada.
Tem que pagar, é o pedágio, perguntamos quanto, responderam 40 bolivianos cada um!
Perguntei indignado o motivo da cobrança do pedágio, o mais velho disse que era para a manutenção da estrada.
Deve ser aquela turma que vimos lá em cima, ok, mas que é uma facada é (uma corrida de taxi são 2.50).
Pagamos e quando pedimos o recibo, nos deram dois cartões de agências de turismo de aventura!

Você gostou do passeio né ?
O André indo tomar um banho
A foto clássica da Carreteira
Cuidado aí André !
Já estamos bem embaixo, a vegetação já mudou
Dá para ter ideia do é sair da estrada por aqui ?
Praticamente no fim.
Eu e André, combinamos que não iríamos parar em Coroico, como a altitude baixou muito, não queríamos nos "aclimatar" ali, tínhamos que voltar no mesmo dia para La Paz a 4000 m.
A estrada no trecho final é igualzinha a uma estradinha de terra qualquer no litoral do Brasil, bananeiras, mangueiras e vegetação atlântica abundante. O calor também é o mesmo, só que estávamos a milhares de quilômetros do Atlântico.  Lá em baixo, sem parar, fizemos o contorno e subimos a ponte da estrada nova.
Em movimento mesmo, comemoramos, missão cumprida, conhecemos a Carretera de La Muerte!
Começamos a voltar partindo de 1000 m de altitude, a estrada nova é cheia de curvas e eu estava me divertindo nelas com a moto sem bagagens. Porém em alguns trechos o asfalto bom, cede lugar à pedras, buracos e ondulações, sempre há uma placa informando "zona geologicamente instável". Pelo jeito ele não gastam asfalto onde o terreno por algum motivo ainda cede.

Entrando na carretera nova, voltando para La Paz, aqui 1100 m de altitude
O trecho inicial estava divertido !
A 2650 m de altitude, baixou esta neblina que depois virou um aguaceiro!
São vários trechos, geralmente curtos, com 100 a 200 metros de extensão. Claro que nos preocupava o amortecedor traseiro da moto do André. Depois dos 2000 m de altitude, a estrada começa a ter curvas muito fechadas e a subir vertiginosamente. É possível olhar para cima e ver estrada passando morros acima muito altos. Com 2650 m de altitude, nós paramos no acostamento, tomamos água e demos um tempo.
O tempo estava fechando novamente e a temperatura caindo.

Voltamos a subir, a estrada nova tem movimento de carros, ônibus e alguns caminhões, passávamos fácil por eles, pois as subidas são íngremes. Depois dos 3000 m começou a esfriar e uma neblina baixou, logo virou uma chuva leve mas que engrossou lá pelos 3500 m de altitude. Foi aí que a coisa se complicou, a chuva ficou muito forte mesmo e o frio ia aumentando conforme a altitude subia. Lá pelos 3800 m o ar e a chuva eram gélidos. Junto com isto a neblina, o capacete embaçava, a gente abria e não aguentava o frio. No primeiro túnel, eu estava na frente e quando entrei, fui cegado pela escuridão e pelo embaçamento, foi como se tivessem apagado a luz, o farol da moto não iluminava nada. Quase parei no meio da pista, e desesperado abrí o capacete, foram alguns segundos angustiantes até que minhas pupilas se dilataram e comecei a ver um pouco. Como o André me passou, pude seguí-lo. Se algum carro estivesse perto, tinha atropelado a gente.

Nós paramos na lateral da pista dentro do túnel, não era o melhor lugar, logo passou um carro buzinando, refeitos do susto seguimos um pouco mais e havia uma área de emergência na lateral da pista então paramos ali. Este túnel é realmente grande, não víamos nem a entrada nem a saída, mas ouvíamos vozes ecoando.

Ficamos um tempo ali, estávamos muito molhados e gelados, porém a quantidade de monóxido de carbono no ar incomodava, fazia os olhos arderem um pouco e a respiração não era boa, aliada à altitude. Gostaríamos de ter ficado mais tempo, porém devido à fumaça acumulada, o bom senso mandava sair. Logo descobrimos de onde vinham as vozes, após uma curva havia outra área de emergência na pista oposta, onde havia um carro parado, uma garotada fazia bagunça brincando com o eco no túnel.
Pudemos observar algumas saídas de emergência do túnel, dava a impressão de que quem saísse por uma daquelas portas, cairia em um abismo, pois através delas só dava para ver o céu lá fora.
Finalmente o túnel acabou, mas a chuva torrencial não, voltamos a tremer de frio, eu travei os dentes, meus dedos das mãos endureceram, eu tentava movimentá-los, porém o polegar direito doía muito e eu não conseguia mexê-lo.

Nós subiamos e acompanhávamos desesperados a altitude no GPS, sabíamos que lá pelos 4500 m de altitude a chuva iria ficar bloqueada nas montanhas, passando desta altitude, do outro lado seguramente estaria seco.
Este é o mecanismo dos Andes, ao norte onde a face leste margeia as áreas tropicais amazônica e pantaneira, a umidade é altíssima, porém as nuvens não rompem os 4600 m de altitude, daí que enquanto as chuvas despencam no lado leste sobre florestas verdejantes, há alguns quilômetros apenas, no lado oeste a aridez impera em cenários desérticos.

No altiplano Peruano encontramos um fenômeno um pouco diferente, pois o lago Titicaca fornece muita umidade ao planalto que está a 3800 m de altitude, porém indo para o oeste (em direção ao Pacífico) existe uma cadeia com 4600 de altitude. Daí que umidade do Titicaca vai até lá, não passa e volta.
Foi uma chuva destas que pegamos quando cruzamos os Andes vindo do deserto em Moquégua para o altiplano em Puno.
Agora aqui na Bolívia, fomos para o lado tropical e na volta ganhamos esta chuva de presente.
Mas já conhecendo o mecanismo, sabíamos que ao atingir La Cumbre, seria só passar alguns poucos km para estarmos secos novamente.

Não sei mais dizer o quanto demorou, mas para quem estava naquela situação, demorou muito para chegarmos ao topo em La Cumbre. Dito e feito, uns 2 km após o ponto mais alto estava seco e com sol !

Paramos no acostamento, eu segurei a curva do escapamento da Suzi com as duas mãos!  Dá pra fazer ideia do que isto significa?   Minhas mãos dentro das luvas, estavam congeladas mesmo.
Tentava descongelar meus dedos, depois ficávamos com as mãos no motor das motos que estavam ligados.
O sol brilhava, podíamos observar à direita, em uma baixada do terreno, a neblina vinda do leste passando rente ao solo, mas não subia para encobrir o sol.
Havia alguns operários trabalhando na estrada, eu observei um velhinho que vinha pelo acostamento seguido por um pequeno cachorrinho branco peludo. Ele se aproximou e nos perguntou se tínhamos um celular!
Nós, naquele estado em que estávamos não conseguimos assimilar tal pergunta, pois dele, todo maltrapilho, esperávamos que pedisse dinheiro. Bem, até tínhamos, mas não conseguimos lhe perguntar para quê e nem saberíamos também como fazer uma chamada local...  Dai simplesmente respondemos que não tínhamos, me cortou o coração, pois era uma descida e ele começou a voltar subindo, seguido de perto pelo seu fiel amiguinho.
Saímos dali com o sol no céu, descemos a ruta 3 até chegarmos na avenida Av. Gen. Juan José Torrez, porém vimos uma descida à esquerda que, segundo nossos instintos descia em direção ao centro. Fomos seguindo o fluxo e afinal acabamos próximo do centro mesmo, passamos por um bairro bem bonito, porém não sabíamos exatamente onde estava o hotel.

Cruzamos uma ponte que eu já tinha visto do hotel, daí sabia que estávamos perto, neste trajeto o céu fechou e parecia que iria chover forte. Em uma rua eu parei para perguntar a um motorista, quando o André passou ao meu lado e disse é por aqui, viramos à esquerda depois à direita e saímos na rua detrás do hotel, entramos direto no estacionamento, já sob alguns pingos de chuva.

Foi a conta certa, subimos para o quarto, porém o André desceu novamente, havia esquecido algo, enquanto isto eu observava pela janela o tempo sinistro lá fora, o céu estava negro à uns 5000 m de altitude.
Nisto o André entrou no quarto com cara de quem não estava bem, me disse que ficou zonzo lá embaixo na recepção, depois enquanto subia no elevador, teve um apagão momentâneo.
Ficamos sem entender, uma vez que pensávamos que não tivemos tempo de nos aclimatar na altitude mais baixa, porém é fato que subimos direto devido à chuva e depois, havíamos inalado uma boa quantidade de monóxido de carbono dentro do túnel.
Neste interím, caiu uma chuva de gêlo sobre La Paz, ficamos olhando pela janela enquanto as ruas e os telhados ficavam brancos. Durou uns 15 minutos, mas foi o suficiente para formar uma camada enorme de gelo.
Concluí que, parte da umidade daquela chuva toda que pegamos, conseguiu passar sobre a barreira dos 4500 m, porém deve ter sido lançada para cima indo parar lá nos 5 mil.  Não deu outra, desceu em forma de grandes bolas de gelo. Vimos pessoas em alguns telhados dos prédios empurrando o gelo, um cuidado para as estruturas não cederem com o peso.

A chuva do lado Atlântico conseguiu passar a barreira e subiu lá para os 5000 metros


Por aqui foi pouco, em outros bairros acumulou mais de um metro de gelo !
Quando tudo passou, e depois de um bom banho, decidimos sair, pois o André tinha algo em mente, como os preços na Bolívia são atrativos o idéia era encontrar uma máquina fotográfica profissional.
Antes disto porém o André foi procurar um Banco do Brasil para trocar as notas de dólar da série CB.  Voltou depois de algum tempo dizendo que estava tudo coberto de gelo.

Saímos juntos e então pegamos um táxi que nos levou a um shopping, porém andamos todos os andares e nada, paramos em uma loja de perfumes. Dali saímos novamente para as ruas, seguindo uma indicação, porém nada do que procurávamos.

O taxista havia dito que existia um bairro onde vendiam mercadorias sem nota fiscal, pela descrição dele concluímos que era o equivalente a nossa Rua Santa Efigênia em SP. Acabamos voltando à pé até a Av. Mariscal Santa Cruz, havia gelo acumulado nas ruas, nos carros, nas fachadas do prédios, uma quantidade enorme e que não derretia.
Andamos mais, uma loja aqui outra ali e nada de equipamentos profissionais, então pegamos um táxi e fomos onde o taxista anterior tinha indicado. Fomos nos afastando do centro e entrando em um bairro periférico muito movimentado até que, saímos no tal local. De fato, o movimento lembra mesmo a Santa Efigênia em um sábado, porém era uma segunda-feira.
Descemos do táxi e começamos a caminhar no meio daquela confusão, que ao que parece foi agravada pela quantidade de gelo espalhado.
Entramos em uma loja e já vimos uma Nikon, perguntamos o preço e o rapaz falou 600, ôpa tá bom!
Aí ele completou, dólares...   O quê?  Isto mesmo.  Que decepção, aquela era uma máquina simples, fomos de loja em loja para descobrir que uma semi profissional custava até 1500 dólares (mais caro que no Brasil).
A lógica é simples, isto por aqui é produto de luxo, só para poucos mesmo, daí os preços absurdos, pois no mais, os preços na Bolívia são atrativos. O André ficou decepcionado, é provável que no freeshop de Iquique no Chile fosse mais barato.
Andamos mais um pouco até que conseguimos um táxi, era um Corolla Probox velhão, eu sentei no banco traseiro e fiquei admirando a "decoração" interna, tinha de tudo pendurado no painel. Pedí para tirar uma foto, incluindo o animado motorista.

O taxi todo decorado,  motorista de bom humor !
Voltando para o hotel e decidimos ir ao mesmo restaurante onde havíamos jantado na noite anterior, desta vez eu jantei.
No restaurante, conversando, concluímos que apesar de estarmos muito longe ainda, nossa viagem praticamente tinha acabado, pois agora não haveriam mais atrações, somente imensos deslocamentos, incluindo o desconhecido trecho Santa Cruz de La Sierra - Corumbá.
Saímos de lá e paramos em um locutório, eu conseguí falar com minha família toda, que bom, pois eu estava precisando.

Na televisão do hotel, vimos que em alguns bairros o gelo chegou a acumular mais um metro !
Carros patinando no gelo e pessoas removendo uma quantidade absurda com pás.
Foi um longo e cansativo dia, mas já deixamos as bagagens arrumadas para a partida do dia seguinte.



4 comentários:

  1. O André é de porcelana...fica dodói toda hora!!!...ahahahaha...continuamos acompanhando os belos relatos!!!

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  2. Adriano a altitude me incomodou mesmo, daqui para frente todas as viagens vou evitar a altitude!!

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  3. eu acho que isso é gravidez, essa viagem do casal rendeu, kkk

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  4. Adriano,

    A altitude é encrenca mesmo para qualquer um.
    Um dia ele não estava bem, no outro dia era eu.
    Como vc verá, no dia seguinte, quem sofreu fui eu.
    abraço

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