sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dia 24/12/2010 - Almas penadas, sopa no deserto e as grandes Quebradas (o Natal de Arica).

Acordei cedo, o André continuava dormindo, eu me arrumei bem quietinho e deixei ele lá.
Neste dia eu tinha uma preocupação e uma inquietação, chegarmos a Arica neste dia (a preocupação) e o mar (a inquietação).

Na noite anterior a dona do hotel onde estávamos, me disse que Arica era menor que Iquique e muito mais tranquila, isto porque eu havia dito estar preocupado em achar hospedagem lá na noite de Natal.
Desci, passei pela recepção e fui para a rua caminhar, sabia que estávamos muito próximos da praia, eu prometi para mim mesmo que iria tomar uma banho de mar no Pacífico, sabia que não seria ali em Iquique, mas não custava sondar...

Estava uma bela manhã de sol, porém não estava quente ainda, três quarteirões é distância da praia. Muitos carros estacionados na rua, ai cruzei a avenida Arturo Prat e cheguei no calçadão da praia Cavancha. Ali há uma rotatória com o Colégio Inglês de um lado e o Hotel Gavina à beira mar do outro. Muito bonito, mais não deve caber no meu bolso...
O calçadão é muito particular, pois é muito elaborado e tem três partes, uma calçada larga em cimento, depois de grama uma calçada de madeira (como um deck) depois grama e outra calçada de cimento, todas fazendo curvas. Ninguém economiza por aqui!
A praia não é convidativa para o banho, tem muitas pedras, sentei na beira da calçada e fiquei ali um bom tempo olhando o mar e observando uma senhora que, pelo que entendi mora em uma barraca encostada no muro alto do hotel. Ela lá cuidando dos seus afazeres diários, seguida de perto por um cachorrinho Poodle branco (amigos fiéis, na riqueza ou na pobreza).
Em um momento passou atrás de mim um carro (entre muitos) com um ronco absurdo, olhei para trás e um Porche prata passou pela rotatória cantando pneus. Que contraste, como sempre riqueza e pobreza extremas muito perto...
Voltei para o hotel e fui acordar o André, hora de partirmos.  Tomamos café e rapidamente estávamos prontos, pois a bagagem tinha ficado nas motos. Nos despedimos da amável senhora e abastecemos no posto ao lado.


Saímos seguindo o GPS e logo estávamos subindo a serra para o bairro Alto Hospício.
Atrás da cidade há uma duna gigante com uns 300 m de altura.


Na parte alta a estrada vira uma avenida de duas pistas, passamos por uma praça onde havia um avião num pedestal, um CASA Aviojet ("Halcón" na força aérea chilena).  Logo após estávamos na ruta A-16 rumando para o encontro com a ruta-5 (aquela mesma que cruzamos indo de San Pedro a Tocopilla pela ruta-24).
Iquique vista da Ruta A-16 subindo rumo a Alto Hospício

Rodando no planalto rapidinho chegamos a Humberstone que fica na "esquina" entre as rutas A-16 e 5. O André estava animado para visitar este lugar, eu não tinha criado expectativas. Paramos em frente e deixamos as motos ao sol (sombra por aqui é o que não há mesmo). Na portaria fomos recebidos por um senhor muito educado, compramos as entradas e eu deixei "todas" minhas coisas no escritório da portaria (depois fiquei muitas horas com uma "certa preocupação", felizmente injustificada).



Entrada de Humberstone (meus lábios destruídos da secura)

O André meio assustado com o lugar...

Rua principal logo na entrada

Humberstone é um complexo industrial e cidade abandonados, foi a maior usina de Salitre do mundo desde o fim do século retrasado até a década de 60 do século passado. Foi alvo de disputas e a principal causa para a "Guerra do Pacífico", pois este lugar literalmente "valia ouro" naquela época. Só pra ter uma idéia, o salitre era praticamente o único fertilizante industrializado para a agricultura mundo afora, além de matéria prima para a fabricação de pólvora !  Já viu né ?



Já na entrada se vê uma rua larga meio estilo "western" dos velhos filmes.

Fomos explorando o lugar com calma, nesta rua ficam as construções já restauradas que formam em conjunto um museu. Há inúmeros artigos originais em exposição, desde brinquedos até ferramentas e maquinário.

Eu e André compartilhamos este gosto por antiguidades, daí que começamos realmente a nos "divertir" com o lugar.



Alegria de uma criança quando vê um brinquedo !

Velho oeste chileno

Casa do chefe
Há muitas fotos de época e eu aproveitei para fazer fotos das fotos.

Trabalho duro, cavar sob o sol do deserto....



Gente de fibra !
Este lugar teve dois grandes ciclos, um antes da guerra e outro depois, passou por várias "modernizações" durante sua existência ativa.  Pelo que entendemos, as maiores "modernidades" tecnológicas da época vinham para cá, sendo este o primeiro lugar da América do Sul a recebê-las. Só pra citar uma, a primeira escavadeira motorizada de toda a América latina, começou a operar aqui.
Regra básica do mundo capitalista, o que "gera" dinheiro "recebe dinheiro".


Primeira escavadeira motorizada da América Latina !

A usina em operação

Seguindo pela rua principal, avista-se a maior das "tortas de rípio" (a terra remanescente do processo de extração) que eram acumuladas formando montanhas planas.  Aí começa o trecho industrial e que ainda não foi restaurado. Andar por ali é instigante, pois tem-se a sensação de que "tudo parou de repente" e todo mundo foi embora no mesmo dia deixando para trás o trabalho que estavam fazendo. Encontramos muitas ferramentas, luvas, calçados e claro "maquinário".






Ficamos doidos caminhando por aquelas oficinas enormes, contudo havia uma sensação estranha. Comentei com o André, deve haver muita "gente" ainda presa a este lugar!  O André me respondeu que tinha uma sensação assim e que havia sentido uns calafrios ao entrar em alguns lugares.

Este lugar foi moradia e trabalho de uma população de 3500 pessoas, ficamos imaginando o burburinho, o som das máquinas trabalhando, as disputas e toda a sorte de "comportamentos" humanos. Além claro, dos muitos que por aqui morreram...

Ao fundo a "torta de rípio"
                            


Central de telefonia e telégrafo

Desde Olacapato, o André acha que eu adoro caixas d'Água





André, não mexa nisto aí !






Ao fundo um motor a Diesel e o dínamo gerador de energia elétrica
Olha a "luneta" de um torno
Torno alemão Henshel & Sohn de 1928, placa 2 m barramento 5 metros

Já falei, não mexa nestas coisas !
Remanescentes das locomotivas que transportavam o rípio para as tortas

Balança para pesos pesados !
Ao fundo o deserto a se perder de vista




Hotel, loja, consultórios dentários e médico. etc
O André ficou doido vendo isto naquela época dentista metia medo



Oficina de tornearia no auge


"Recursividade", Salitre para fazer pólvora, pólvora para buscar salitre...

Caminhão a "vapor" e o "Rambo" da época !


Este quadro ilustra as operações

Naquela época, no braço !





Hoje tudo é mais fácil


                               



Praça, atrás da escola e do teatro


Não vou me estender descrevendo o lugar, pois o mesmo merece uma visita.  Mas vimos muita, muita coisa mesmo, pena que tínhamos que seguir para Arica, senão ficaríamos o dia todo lá. Comentamos que deveria ser o máximo ver o dia terminar naquele lugar.

Visitando os últimos prédios já na volta para a saída, estávamos ambos visivelmente abatidos, pelo calor mas também pela "aura" do lugar. Como disse para o André, lugares onde tudo está abandonado, acumulam uma energia "estagnada" além claro das muitas almas que ainda vagam por aquele lugar relutando em aceitar a realidade. Isto drena as forças da gente que vem de fora, acaba-se sendo "energeticamente vampirizado".


Mais uma vez, seguimos uma dica preciosa do Marcelo que nos disse para voltarmos 5 km ao sul pela ruta 5, pois havia combustível ali e não mais até Arica.
Pegamos as ruta 5 sentido sul (oposto ao nosso destino) e rapidinho chegamos a Pozo Almonte, uma cidadezinha onde a ruta 5 é a avenida principal. Quase saindo da "zona comercial" que se forma dos dois lados da "avenida" encontramos o posto.

Abastecemos, havia ali também alguns Toyotas Celica da década de 90, eu já tinha vistos vários desde Iquique, parece que o pessoal por aqui é fã destes carros.
Voltamos para a área comercial e estacionamos as motos sob a "vigilância" de um policial que estava do outro lado da rua e não tirava os olhos da gente. O sol era impiedoso! Cruzamos a rua para irmos a um restaurante, porém não estava funcionando.

Bem onde tínhamos estacionado as motos havia um restaurante muito pequeno, uma portinha, entramos e nos instalamos na mesa próxima da porta.
No cardápio escolhi uma "casuela" que me causou admiração quando chegou, igualzinha ao "sopão" que minha mãe faz!


Simples e funcional, onde não chove "quebra" o sol


Você não dá nada por esta portinha...


O menu é uma surpresa, lá ao fundo o carro de policia

"A Casuela"  aquela sopa !

Me esbaldei com aquela deliciosa sopa que pelo visto era o carro chefe do lugar, pois muita gente pedia.

Uma deliciosa e hidratante sopa no deserto.
As calçadas de ambos os lados da ruta são engenhosamente cobertas com "ripas de madeira espaçadas", formando um agradável corredor iluminado porém com sombra. Solução muito inteligente e particular para um lugar onde sol do deserto não perdoa.





Hora de partir
                                         
Pegamos a ruta 5 novamente, agora em direção ao nosso destino 250 km ao norte, Arica. Como vimos antes, a ruta 5 corta o deserto de sul a norte pelo planalto paralela a costa em média uns 60 km de distância e em altitudes que variam de de 500 a 1300 metros em relação ao nível do mar.

Logo que se passa novamente por Humberstone, alguns km a frente há um lugar intrigante, muros altos formando um quadrado e lá dentro um bosque com muitas e verdes árvores. Não há uma placa, nada, nem se consegue ver lá dentro. Parece um oásis particular contrastando com as planícies secas a perder de vista. Mais adiante novamente vêem-se árvores, mas não tantas, é o Forte Baquedano, presença do exército chileno. Á esquerda as tortas de rípio de Humberstone.



Rasgando o deserto !
Eu estava preocupado em chegar à Arica, e talvez por isto dei uma mancada, uns 25 km a frente fica Huara, eu não me lembrei que ali era a saída para ir ver o "Gigante do Atacama", um geóglifo de 80 m que fica 16 km à direita da ruta 5.
Estava na minha programação ir até lá, mas foi melhor assim, provavelmente se tivéssemos ido lá as coisas teriam se complicado em Arica. Chegar a um lugar que não se conhece tarde em uma noite de Natal não é recomendável.


A Ruta-5 e as enormes retas no deserto

Após Huara, onde há um geóglifo visível da beira da estrada, começa o "Pampa de Tamarugal". O Tamarugo é uma árvore baixa e muito resistente que consegue sobreviver no deserto, é intrigante pois este "bosque" que a estrada corta, se estende por uns 20 km.  Tem-se a impressão que foram plantados ali, mas o chão aos pés das árvores é a pura areia do deserto.

Outra coisa que não vimos, mais ao que parece não é para ser vista mesmo, é uma base aérea "fake" que existe à direita da ruta. A única coisa que ví além da imensidão plana do deserto foi uma placa indicando zona militar.

Este lugar é uma "simulação" de uma base aérea Peruana, e foi utilizada treinamentos de ataque à base verdadeira, como se vê o clima por aqui sempre foi "literalmente quente".

Uma coisa que se vê constantemente são as colunas de poeira subindo em espiral, com o calor formam-se rodamoinhos no deserto e levantam colunas verticais de poeira girando em espiral, algumas devem chegar a centenas de metros de altura e são vistas a quilômetros de distância.

Rodados uns 80 km pela ruta-5, encontramos a primeira das "grandes quebradas" Tiliviche, aí começou a rotina de descer pelas "cuestas" até o fundo da quebrada, onde sempre há uma ponte sobre o rio que origina o lugar formando um vale "verde" e depois subir as "cuestas" do outro lado até o planalto novamente.

Nas "cuestas" do lado norte desta quebrada, pode-se ver os geóglifos de Tiliviche, são inúmeras lhamas em um pasto. É uma linda quebrada.

As quebradas fazem parte do nome da nossa "expedição" e foi principalmente devido às da ruta 5 que decidimos homenageá-las.

Uns 10 km a frente está a próxima que é a quebrada de Tana, descemos as cuestas, passamos a ponte a na subida do outro lado haviam caminhões e algumas pedras na pista. Quando estávamos mais ou menos na metade da subida, ví uns carros muito próximos no retrovisor, cedemos passagem, eram um Toyota Celica verde, um Honda CRX azul escuro e outro carro vermelho que não identifiquei, mais era um "esportivo" japonês também. Naquela subida os três juntinhos aceleraram e ganharam velocidade, passar motos 600 cc na subida não é fácil, mas aqueles três eram os "velozes e furiosos", me lembrei do meu amigo Massao que adora carros Japoneses. Ele teria gostado de ver aqueles três rasgando o deserto, tanto que sumiram, não os vimos mais.

Cuesta de Tana onde fomos engolidos pelos velozes e furiosos !

Uns 20 km à frente chegamos a "gigantesca" quebrada de Chiza ou Ghiza. Esta quebrada forma, junto com a quebrada Camarones um complexo geológico fantástico.

As duas quebradas, formam um "V" e se encontram a 10 km do Pacífico, a estrada desce de 1300 m de altitude do planalto (pampa de Tana) pelas "cuestas" da Quebrada de Ghiza, desce 900 m em 17 km! Continua descendo e entra no vale desta a 90 m do nível do mar, depois da ponte do rio Camarones começa a subir pela cuesta da quebrada de mesmo nome.  Sobe 1100 m em 20 km!  A subida termina a 1200 m no planalto (pampa de camarones). Do espaço, uma imagem de satélite à 250 km de altitude, mostra claramente este lugar.

Paramos no início da descida e tiramos fotos, ficamos ali admirando aquele cenário gigantesco que não cabe em uma foto.

Começamos a descida, nas cuestas existem "rampas" na areia, que saem da estrada e sobem por uns 100 a 150 metros morros acima. São zonas de escape, se algum caminhão perder os freios, basta "jogar" o mesmo em uma destas rampas que ele irá parar com as rodas enterradas na areia lá no alto da rampa. Simples, mas deve salvar muitas vidas.

Pra lá no horizonte a Bolívia, a grandeza não cabe na foto !









Descendo Ghiza

Dentro do Vale
Quase no final da descida, bem na beira da estrada estão os geóglifos de Ghiza com vários desenhos, sendo um deles um desenho humano todo quadradinho.

Daí em diante roda-se pelo vale e foi aí que um vento contrário e meio de lado fortissímo nos pegou. Minha moto estava a 80 km/h em quarta marcha acelerando e eu tinha sensação do vento como se estivesse andando a 150 km/h. A moto ficava de lado e vinham "rajadas" que faziam a moto mudar de pista. Baixei a velocidade para 60 km/h e mesmo assim não me sentia seguro.
Rodava um pouco sobre a faixa da esquerda com a moto inclinada para a direita, nas rajadas quase ia parar no acostamento!


O deserto é "bruto"






Geoglifos de Ghiza

Vento absurdo ! estamos com as motos de lado




Dentro do vale, antes da ponte sobre o rio Camarones, existe a aduana de Cuya, que por sorte estava fechada. Paramos ali e entramos em uma pequena lanchonete. Ficamos  tomando um refrigerante e conversando com o dono do local. De repente eu olho para a Suzi e a vejo "balançando" com o vento, instintivamente saí correndo para segurá-la. O André riu, com todo aquele peso  a moto não cairia, mas eu juro que a vi balançar perigosamente.

Acho que foi ali que disse para o André que existia uma única palavra que conseguia resumir tudo sobre o deserto, "bruto".

Saindo dali, passamos sobre a ponte do Rio Camarones, à esquerda "quase" se vê o mar que está a 10 km de distância, começa aí a grande subida da "cuesta" de Camarones. Durante a subida eu não me cansava de olhar para o vale cada vez mais distante, pensava no que acontecia com os veículos que saíssem da pista por ali, no início da subida a queda é vertical, depois começam enormes costados de areia que se inclinam e depois "despencam" para o vale.  Não demorou muito ví duas carcaças de carros que haviam descido, mas como tudo ali é gigantesco, os carros haviam descido uns 300 m e ficaram encalhados no areião, menos mal.

Ponte sobre o rio Camarones, encontro das quebradas Ghiza e Camarones



Isto é uma quebrada !   verde que acompanha um curso de água


Vistas do espaço, as gigantescas quebradas


Depois da ponte começa a subida que vai até 1200 m de altitude


O vale cada vez mais longe ao fundo
Sempre que termina a cuesta de uma quebrada, chega-se ao planalto onde há uma reta enorme, esta aqui tem uns 15 km, aí começa a descida da também grande quebrada de Chaca. Esta desce de 1200m até 400 m em 20 km, depois sobe de vez para 700 m no Pampa de Chaca, estamos indo para o litoral.

Mais 15 km e começamos a descida "suave" da Quebrada Acha que termina na "baixada" de Arica formada pelos Valle Azapa e Del Lluta.

São 20 km desde o início da descida até a Rotonda Manuel Castillo, estamos em Arica!

Da rotatória pegamos a Av. 18 Septiembre e paramos no primeiro posto de gasolina, a cidade estava muito movimentada, carros e gente pra todo lado, véspera de Natal é igual em todo lugar, aquela correria de última hora. Abastecemos e bem ao nosso lado havia um carro esportivo branco novinho e o seu proprietário com seu impecável uniforme de "guerra do deserto". O militar, um rapaz novo olhava para nós tentando disfarçar a curiosidade.

Saindo dali passamos por um Shopping Center com fila de carros na avenida para entrar no estacionamento, fomos em direção ao mar pois a avenida termina na beira-mar Cmte. San Martin, viramos à esquerda e já passamos pelo porto e a praça central aos pés do morro de Arica. Ao invés de entramos no centro, continuamos rumo sul pela beira-mar procurando hotéis e logo vimos o Panamericana Hotel, muito convidativo!

Paramos e eu fui lá ver as condições, mas já sabendo que devia ser uma paulada, e era mesmo, 293 dólares por um quarto duplo e com desconto 230,00, sem chance.

Voltei para a frente do hotel em forma de rotatória, lá havia estacionado um motor-home radical, um "Unimog" branco. O André sempre falava em ter um motor-home e aquele ali era o mais "off-road" existente. Com placa da união Européia, só um pobre mesmo para passear com um destes por aqui, ao lado das motos encostou um senhor muito alto e começou a puxar conversa em Inglês com sotaque alemão.   Acho que era o dono do "brinquedo", pena que estávamos com pressa.


O "Unimog" brinquedo de gente grande !

Voltamos a avenida e subimos para um bairro onde havia uma pousada para surfistas, mas estava fechada.

Vamos para o centro, entramos nas ruas estreitas e movimentadas já bem no fim da tarde. Acabamos em uma rua menos movimentada e lá, vimos duas opções, paramos as motos e combinamos, você vê aquela e eu vejo a outra. Comecei a descer a calçada quando uma moto custom vinha subindo, cumprimentei o motociclista, a pousada também estava fechada.

O comércio estava fechando e pelo jeito tudo mais também.

Aí escutei o André me chamar, ao lado dele sentado na moto estava o motociclista, o André tinha levantado a mão e ele parou.

Os anjos da guarda mandaram um emissário de Honda Shadow, um cara muito sério mais muito bacana, típico motociclista "custom" camiseta preta, óculos e capacete "nazi" pretos. Gordão de barbicha, ele pegou o celular e nos disse, "eu resolvo isto para vocês". Fez várias chamadas até que eu ouvi ele dizer, tem que dar desconto!

Pediu-nos para seguí-lo, alguns quarteirões depois ele desceu uma rua que passa ao lado da Catedral de Arica rumo ao porto, paramos na descida em frente ao Hotel Plaza Colon, ao lado da Igreja San Marcos.

Ele foi lá conosco e negociou um desconto, de 30 mil pesos chilenos por 24 mil a diária de um quarto-duplo, depois nos guiou novamente de moto até a rua de trás onde está a entrada do estacionamento.  Ficamos sem saber como agradecer!  O convidamos para uma cerveja, ele agradeceu e nos disse que trabalha em uma mina, teria de viajar para lá.  Agradecemos novamente e ele disse que somos irmãos de motos, devemos nos ajudar mutuamente.

A recepcionista do hotel, uma menina muito calma e gentil, abriu o portão do estacionamento que era grande e estava vazio, colocamos as motos sob a cobertura e começamos a subir com as "tralhas todas".  Ela nos deu um quarto do qual não gostei, era arrumado mas da janela só se viam uns telhados, voltamos à recepção e expliquei que gostaria de um com vista para a rua, ela resolveu isto sem questionar.

Nos instalamos e fomos procurar algo para comer, o hotel apesar de simples esta muito bem localizado, pois descendo a calçada do mesmo, na esquina já é o complexo de calçadões onde a rua principal é o Paseo 21 de Mayo.  Já deviam ser umas 6 horas da tarde e quase tudo já  fechado, entramos em uma lanchonete para comermos uma pizza regada a cerveja.

Escutamos muitos latidos e quando olhamos um senhor subia a rua cercado por vários cães, ele enchia bexigas e as jogava para o alto, os cachorros saltavam jogando bola com elas, uma festa. Quando saímos a lanchonete também estava fechando, de repente ficou tudo calmo.

Quando voltamos para o hotel eu disse para a recepcionista que teria comprado um panetone para ela se tivesse encontrado algum, ela agradeceu com um sorriso. Pelo jeito só eu e o André éramos os hospedes ali, ela teria de trabalhar lá até meia-noite só por nossa causa...



O Scooby na sacada do hotel, ao fundo o "morro" de Arica com a bandeira do Chile



O Hotel Plaza Colón

Descansamos um pouco, mais tarde arrumados fomos caminhar a pé. Até o MacDonnald's estava fechado, acabamos parando na praça Colón que tem umas piscinas com chafarizes. Tinha uma cachorrinha que estava "stressando" uma gaivota em uma das piscinas, pelo jeito a gaivota estava machucada e não conseguia voar. A cachorrinha ficava na água correndo atrás da gaivota que nadava pra lá e pra cá.

Tentamos persuadir a cachorra a desistir da brincadeira, mas ela brincava e corria com a gente na praça, depois lembrava da gaivota e pulava na piscina novamente, não sei que sorte a gaivota teve...

Conversamos bastante, depois subimos passando pela igreja onde ocorria a missa de Natal,  fomos dormir.


Rodamos neste dia 260 km em aprox. 9 horas.   Iquique -> Arica Chile.
Hotel Plaza Colón - Calle San Marcos, 261 - Arica Chile.
No calçadão "Paso peatonal 21 de Mayo" existem muitas lanchonetes, restaurantes, pub's e também o McDonnald's.


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